O apoio do PT à reeleição da governadora Roseana Sarney, decidido a fórceps pela direção nacional da legenda e contra a maioria dos militantes maranhenses, impõe algumas reflexões. É muito mais que um episódio localizado. Tem significado futuro e programático. Pode representar a flexão nos objetivos da agremiação nascida no berço do sindicalismo brasileiro pós-ditadura militar.
São notórios os êxitos obtidos pelo governo Lula nos últimos oito anos. Ampliação das relações diplomáticas; crescimento econômico com geração de empregos; reversão do quadro completa indigência social de milhões de brasileiros; ampliação do mercado interno e investimentos estruturantes são alguns dos exemplos. Todos, resultados do redirecionamento das prioridades do governo e do Estado brasileiros. Foi o contraponto aos 500 anos de domínio das elites agrárias, industriais e financeiras, algumas com tinturas nacionalistas outras deslavadamente entreguistas.
Todavia, sem maioria parlamentar, a coalizão de partidos de esquerda (PT, PSV e PCdoB) teve que pagar, às elites, um preço alto pela governabilidade. Inicialmente, a tentativa foi a cooptação da parte fétida desses segmentos, aquela representada pelos Robertos Jeffersons e Severinos Cavalcantis. Depois, foi o partilhamento de poder com setores que detêm o controle do PMDB, transformado hoje em uma federação de coronéis regionais – Calheiros, Sarneys, Barbalhos, entre outros .
Mas na dialética interna do processo mudancista do país, em que se enfrentam forças antagônicas, esses agrupamentos não são os que movem a roda da história pra frente. São os tentam controlar, reter e, até, reverter as tranformações sociais. São as poitas do progresso. E num estado que tem o segundo litoral do país e até membro da Academia Brasileira de Letras que diz entender de história de donos do mar, é fácil saber que são os ventos e não as poitas (âncoras artesanais feitas de pedras) que impulsionam os barcos.
Nas próximas eleições, o peso específico desses segmentos cresce na coalizão. O acordão nacional PT-PMDB, leia-se, campo majoritário do primeiro e coronéis do segundo, provocou verdadeiro rolo compressor em vários estados, especialmente no Maranhão e Minas Gerais, que pagaram o preço da cobiça peemedebista. A decisão da cúpula petista reforça aqueles que insistem em manter nosso estado na contracorrente das mudanças. E poderá, mesmo, conter o avanço que os mesmos dirigentes prometem imprimir ao país. O governo federal se tornará ainda mais refém das poitas, personagens da política que o Maranhão bem conhece após 45 anos sem alternância de poder.
Fonte: Jornal O Imparcial